"Sócrates, Cavaco, Passos Coelho, António José Seguro e o que por aí
chamam troika fizeram o nosso ano de 2011. Farão o de 2012?
José Sócrates - O que admira neste homem é ele ter chegado a chefe de
um grande partido e a primeiro-ministro. Tudo o resto se explica: a
ignorância, a irresponsabilidade, o autoritarismo e a noção de que a
política era uma forma de teatro. Mesmo assim, ganhou a confiança de
gente que devia saber mais e os portugueses só correram com ele no
último momento. Irá com certeza ficar como o emblema da decadência do
regime.
Cavaco - Depois de um primeiro mandato que se distinguiu pela
patriótica ambição de ganhar um segundo, no fim Cavaco lá ganhou.
Entretanto, para não perder um voto, evitou prevenir o país do estado
em que de facto estava e da catástrofe que lhe preparavam. Continua a
ser o que sempre foi: um discípulo menor de Marcelo Caetano, com uma
vaguíssima inclinação para a social- democracia. Num aperto, não se
pode contar com ele.
Pedro Passos Coelho - Simpático, bem-intencionado, relativamente
instruído e muito bom aluno, tenta cumprir o programa da troika, que
de resto recebeu de fora e a situação não lhe permite alterar. Mas, no
meio disto, até agora não mostrou que tinha a sombra de uma ideia
própria e do destino que pretendia dar a Portugal. Alguma retórica
"liberalizadora", ainda por cima obscura e ambígua, como a do discurso
de Ano Novo (ou de Natal), não chega para convencer ninguém. Os
portugueses continuam brandamente a acreditar nele. Sem grande
confiança.
António José Seguro - Veio do nada, não fez nada, vai voltar para o
nada. Perfeito produto de uma escola partidária (no caso, a do PS),
não merece mais. Hoje mesmo é difícil ouvir com atenção as vacuidades,
que ele provavelmente toma por pensamento político.
Troika - Apareceram por aqui uns funcionários, que não conhecem
Portugal e não falam português. Mas que por inspiração doutrinária já
traziam a receita para nos reformar. Que o país não seja exactamente o
que eles pensam, nem reaja exactamente como eles querem, nunca
certamente lhes passou pela cabeça. Livros são livros e o que vem nos
livros vale muito mais do que a realidade. Se as coisas se estragarem,
paciência. Eles não se importam. Há no mundo outras freguesias para
irem pregar. Esta é a "Europa" onde nos meteram."
Vasco Pulido Valente, jornal "O Público", 31-12-2011